Entrevistas

Entrevista – professor e sociólogo Demétrio Magnoli

“Os atentados de 11/9 foram o ápice da estratégia midiática do terror”, diz Magnoli

Por Guilherme Sardas

O sociólogo e professor Demétrio Magnoli foi um dos estudiosos brasileiros que se embrenharam na missão de investigar o amplo significado dos eventos de 11 de setembro de 2001. Em entrevista exclusiva à IMPRENSA, o autor do livro “O Terror Global”, de 2008, faz um balanço passados 10 anos da data fatídica.


Quais foram as principais mudanças no mundo decorrentes dos atentados de 11 de setembro?

O tema do terror global, que já era uma preocupação séria num círculo restrito de estadistas e analistas das relações internacionais, tornou-se algo central na agenda mundial. Nos EUA, soldou-se a estranha aliança entre neoconservadores e cristãos fundamentalistas que alicerçou os dois mandatos de George W. Bush. O país engajou-se numa "guerra ao terror" que, lamentavelmente, incorporava a noção do "choque de civilizações" de Bernard Lewis, arranhando os valores do Ocidente no mundo árabe-muçulmano. Bush usou a "guerra ao terror" como pretexto para a invasão do Iraque, concebida como elemento de uma estratégia de reordenamento geopolítico do Oriente Médio. O fracasso dessa estratégia e o desastre econômico também provocado pelas políticas de seu governo criaram as condições para o declínio da liderança americana.

Desses 10 anos pra cá, os EUA deram provas de que é um império em ruína?

Os EUA não são - e nunca foram - um "império". A influência mundial americana entrou realmente em declínio, mas não devido aos atentados do 11/9. O declínio, que se assiste nitidamente hoje, decorreu das opções de política externa e de política econômica do governo Bush.

O Sr. vê uma natureza midiática no “11 de setembro”? Como enxerga os ataques do ponto de vista simbólico?

O terrorismo é um fenômeno moderno, essencialmente midiático. As origens do terror se encontram em movimentos políticos do século XIX que, muito minoritários, procuravam influenciar a opinião pública por meio de ações exemplares de grande impacto. Não há, portanto, novidade, nessa relação entre terror, mídia e opinião pública. Obviamente, devido às suas feições, os atentados do 11/9 representaram um ápice dessa "estratégia midiática" do terror.

A repercussão dos ataques expôs o antiamericanismo o Oriente Médio e de outras partes do mundo. De 10 anos pra cá, isso estimulou uma mudança de atitude americana? Se sim, o que mudou?

A sua afirmação é uma meia-verdade. Na hora do atentado, houve também muita solidariedade aos EUA, inclusive no mundo árabe-muçulmano. A "guerra ao terror", na forma em que foi definida por Washington, atiçou o fogo do antiamericanismo no mundo inteiro - inclusive na América Latina. Sem dúvida, isso teve impacto nos EUA. A eleição de Barack Obama foi, em certa medida, uma mensagem americana para o mundo. Eles estavam dizendo: nossa nação não é idêntica ao governo Bush.