Entrevista
Márion Strecker,
co-fundadora e ex-diretora
de conteúdo
do UOL
Para co-fundadora
do UOL, “11
de setembro”
mudou a Internet
Por Guilherme Sardas
No momento em que
as primeiras imagens
do “11/09”
ganhavam as televisões
do mundo, milhões
de pessoas corriam
para seus computadores,
caçando notícias
do evento. Foi inevitável
o “boom”
de acessos, assim
como a queda momentânea
de grandes sites,
cujos servidores estavam
despreparados para
demanda tão
violenta.
Era sintoma certo
de que se tratava
de uma data marcante
para a rede e, mais
do que isso, de que
a rede poderia se
tornar uma fonte autônoma
de informação.
Confira abaixo a entrevista
sobre o assunto com
a co-fundadora e ex-diretora
de conteúdo
do UOL, Márion
Strecker.
O “11
de setembro”
mudou a Internet?
Em qual sentido?
Sim, o “11 de
setembro” foi
um marco na história
da internet no Brasil
e no mundo. Foi o
dia em que muitos
que não tinham
o hábito de
usar internet se conectaram.
Todos queriam ver
as imagens, entender
o que estava acontecendo,
obter notícias
de parentes ou amigos
que estavam nas torres
ou que poderiam estar
nas redondezas. E
queriam todas essas
informações
na hora, sem ter que
esperar a TV informar
ou o jornal do dia
seguinte chegar nas
bancas. Como permite
acumular todo o conteúdo
presente e passado,
a internet brilhou.
Os internautas podiam
obter as informações,
fotos e vídeos
que queriam, no momento
em que queriam.
O evento acabou
expondo alguma deficiência
dos portais jornalísticos
brasileiros naquela
ocasião? Quais?
O que mudou de lá
pra cá?
Os portais brasileiros
costumam ser medianos
na cobertura internacional,
pois dependem excessivamente
das agências
internacionais de
notícias e
só costumam
mandar jornalistas
ao exterior em grandes
coberturas previsíveis,
como a Copa do Mundo.
Não ter ou
ter poucos correspondentes
no exterior é
uma fraqueza, ainda
mais para aqueles
portais que não
contam com seus próprios
correspondentes ou
sucursais no exterior.
Ter muitos jornalistas
iniciantes e poucos
jornalistas experientes
é uma fraqueza
da maioria dos portais
brasileiros. Quando
uma notícia
bombástica
se impõe, é
preciso poder mudar
a homepage de um minuto
para o outro. Os publicadores
dos portais precisam
ter essa flexibilidade,
os designers gráficos
precisam estar a postos,
os infografistas também,
e os diretores de
publicidade precisam
entender que o interesse
do público
vem antes da publicação
dos anúncios.
Com o “11
de Setembro”,
a Internet também
foi utilizada como
ferramenta de comunicação
dos próprios
terroristas. Você
vê alguma mudança
de como tratavam àquela
época as restrições
de conteúdo
na Internet, em comparação
a hoje?
Viver é perigoso.
Há países
em que internet é
realmente censurada.
Não temos isto
no Brasil, felizmente.
Do ponto de vista
jornalístico,
o importante é
não perder
a objetividade na
apuração
da notícia.
É possível
prever a próxima
“novidade”
da Internet? O que
está por vir?
As palavras de ordem
são mobilidade
e uma atuação
cada vez maior do
público na
internet. São
tendências inevitáveis.
O Brasil já
domina a diferença
entre o jornalismo
digital e o impresso?
Comparando com outros
países, sabemos
produzir notícia
para Internet?
Acho o Brasil bastante
vanguardista em jornalismo
digital. Jornais como
a Folha foram para
a internet antes do
New York Times. Isto
em 1995! Mas há
muito a ser feito
para melhorar a experiência
do público.
Muito mesmo. Muitíssimo.
Não só
no Brasil, mas também
aqui nos EUA, onde
estou agora. Achar
o modelo de negócio
sustentável
(conteúdo grátis
ou pago) após
o advento da internet
é o maior nó
a desatar para a maioria
das empresas que fazem
jornalismo impresso.
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