Entrevistas

Nic Robertson, correspondente da CNN no Afeganistão
Por Pamela Forti

IMPRENSA – Qual foi o impacto do 11 de setembro de 2001 para os jornalistas que cobriram o ataque?
Nic Robertson - O impacto foi enorme. Nenhum de nós sabia o que estava por vir e ninguém poderia dizer quando ou como o dia ia acabar. De onde eu estava, em Cabul, me senti isolado do que o resto do mundo estava experimentando, mas, ao mesmo tempo, eu estava preocupado com minha família. Eu disse a minha esposa - que era repórter da CNN em Londres na época - para pegar os nossos filhos da escola e ir para casa. No Afeganistão, não passava nada da TV e eu não tinha como ver a devastação, mas sabia que a história chegaria ao país de alguma forma e que era preocupante. Nunca tinha experimentado nada tão imprevisível, tudo mudou tão rápido. O Taliban queria nos expulsar do país. Foi uma montanha russa emocional.

Para você, qual foi a maior dificuldade na cobertura desta história?
A maior dificuldade foi ficar no Afeganistão. Tivemos que encontrar outras pessoas para trabalhar conosco, porque muitos ficaram com medo e fugiram. Fomos os únicos jornalistas a permanecerem no Afeganistão. O Taliban queria que todos deixassem o país. Assim, cruzamos país escondidos durante a madrugada. Queríamos autorização para permanecer, mas eles nos levaram até a fronteira.

Você se lembra de alguma orientação da CNN em relação a quais imagens poderiam ou não serem exibidas?
Como eu estava no Afeganistão, eu ainda não tinha visto imagens dos ataques. Quase duas semanas após os atentados, fui forçado a deixar o país. Antes disso, minha cobertura estava focada em na área em que eu estava, ou seja, Afeganistão e Paquistão. Dessa forma, as orientações sobre uso de imagens dos ataques não eram meu foco. No entanto, sempre fomos direcionados a tratar imagens de sofrimento com cautela e evitar derramamento de sangue gratuita.

Como CNN contribuiu para a cobertura dos ataques em todo o mundo?
CNN trouxe uma perspectiva global que outras emissoras notícias não poderiam igualar. Eu estava em Cabul e fomos a única agência de notícias que cobriu a coletiva Taliban, feito pelo ministro das Relações Exteriores de imprensa, apenas quatro horas depois dos ataques. Ele respondeu minhas perguntas sobre o papel de Osama bin Laden no atentado e ele negou. Fornecemos também a cobertura ao vivo apenas de ataques com foguetes contra o helicóptero Taliban, também em Cabul, na noite de 11/09. Eu era apenas uma das muitas equipes de reportagem ao redor do mundo e a CNN mostrou excelência não só em profundidade, a partir da cena dos ataques, mas também na cobertura dos desenvolvimentos globais, ao vivo, do país que originou os ataques.

Na época, como a Internet era usada?
Usamos a Internet para fornecer cobertura ao vivo de Cabul. Tínhamos uma unidade de transmissão ao vivo em que o vídeo era digitalizado a partir de nossa câmera e transmitido por meio de um telefone via satélite de banda de 128k. Foi tecnologia inovadora que estávamos usando na época. Menos de dois anos antes do 9/11, tínhamos transmitido o primeiro vídeo ao vivo por telefone via satélite durante o sequestro de um avião de uma companhia aérea indiana em Kandahar, no Afeganistão.

Aconteceu algum fato curioso com você ou sua equipe na cobertura dos ataques?
Sem saber do ataque, liguei para nossa redação em Atlanta, e por muito tempo, ninguém respondeu. Quando finalmente alguém atendeu, desligou na minha cara. Liguei de volta e então liguei para a minha esposa no escritório da CNN em Londres. Enquanto conversávamos, o segundo avião atingiu o World Trade Center, e eu, imediatamente, soube que era um ataque terrorista e que a causa mais provável era o Afeganistão.

Dez anos depois, como você acha que os ataques de 11 de setembro afetaram a forma como os jornalistas cobrem histórias?
Acho que os ataques colocaram a cobertura de notícias internacionais no mapa, de uma forma que não teria acontecido, talvez, nos anos subseqüentes. As ações que se seguirem aos atentados, como a invasão ao Afeganistão e a guerra do Iraque impulsionaram o desenvolvimento da radiodifusão por satélite e ao vivo. Trabalhar em locais remotos exigiu que tivéssemos que melhorar o nosso equipamento técnico. O 11/09 também trouxe a realização editorial de como as histórias são interligadas. O que aconteceu em todo o Oriente Médio e no Afeganistão nas décadas anteriores aos ataques ajudou a criar as condições para eles. Bin Laden foi responsável, mas a data nos fez olhar mais fundo sobre as tendências por trás das manchetes, para que ninguém fosse pego de surpresa novamente.