Entrevistas

Depoimento de Thomas Shanker, repórter do New York Times, atualmente correspondente de segurança nacional e política internacional

Por Pamela Forti


“Claro que eu estava transtornado. Eu estava no caminho para o Pentágono e cheguei lá depois que o prédio já tinha sido atingido. Eu normalmente ia de transporte público, mas a estação de metrô debaixo do Pentágono estava fechada. Então, eu tive que sair e andar por uma longa avenida, que estava cheia de carros e pessoas, olhando em direção ao Pentágono, havia muita fumaça e fogo ; o prédio estava sendo evacuado naquele momento. Então, todos os repórteres foram para um estacionamento perto dali, e então, nós começamos a entrevistar as pessoas que estavam ali. Foi terrível, nunca esquecerei.

Todas as pessoas ao redor do mundo ficaram profundamente tristes e transtornados, mas isso não afetou como nós tivemos de fazer nosso trabalho.

Nas primeiras horas, os celulares não funcionavam. Não porque as torres dos celulares foram danificadas, mas porque muitas pessoas estavam tentando ligar para os membros da família e o sistema ficou sobrecarregado. Mas ali, naquele estacionamento onde estava situada imprensa, estava muito claro que havia sido que havia sido um ataque terrorista e um seqüestro. Claro que nas primeiras horas depois da catástrofe, a informação não era perfeita. Mas havia informação suficiente para dar ao jornal uma noção do que tinha acontecido.

Todos os repórteres do NYT foram requisitados para que buscassem as informações oficiais oferecidas pelo governo, mas que também buscássemos desenvolver outras fontes para ter informações extra-oficiais e checar os fatos.

Naquele dia, era muito difícil entender o que o governo faria depois. Isso porque o governo demorou diversos dias para estruturar a estratégia.

Eu posso dizer que a cobertura sobre segurança nacional tornou-se muito melhor agora. Porque nos últimos 10 anos houve muita educação para todos sobre como os militares operam, sobre como a política militar é feita, o que o governo faz bem , o que faz pobremente, quase são os riscos, que decisões são inteligentes, quais são erros... Os repórteres correram riscos incríveis nos últimos dez anos, nós sabemos que há seqüestros, assassinatos, repórteres sendo mortos numa batalha... Tudo sobre como nós fazemos nosso trabalho mudou completamente.

Na frente do pentágono, há um saguão, aberto. Eu olhei pelas janelas e vi esses grandes xxx brancos. A princípio, eu pensei que eram sacos de dormir, mas depois, eu me dei conta que era bolsas para se colocar os corpos, esse é provavelmente a imagem que eu nunca vou esquecer. Mas os sacos estavam no chão, murchos, porque não havia restos. O fogo e o impacto foram tão poderosos que todos aqueles que morreram basicamente desapareceram e aqueles que estavam feridos foram removidos. Então, esses sacos estavam jogados e vazios, porque não havia nada para colocar dentro deles.

Internet funcionou corretamente, mas naquele dia, era basicamente ligações telefônicas e falar com as pessoas face-a-face. Naquele ponto, foi informação verdadeiramente instantânea, que a gente conseguia na porta do pentágono ou ficando nas nossas mesas e ligando para o comando militar. A internet é boa depois que algo acontece e você pode checar lá, mas havia muito pouca informação verdadeiramente realtime na internet. E nós estávamos trabalhando mais rápido fazendo reportagem à moda antiga” .