Entrevistas

Entrevista com Zileide Silva, apresentadora do “Bom Dia Brasil” e “Jornal Hoje”, da TV Globo.

“Cobertura me ajudou a entender muito mais nossa profissão. E a ter orgulho dela”, diz Zileide Silva

Por Pamela Forti

IMPRENSA - Como foi a sensação de estar em NY no momento em que ocorreram os atentados de 11 de setembro? O que você estava fazendo no momento, qual foi sua reação?

Zileide Silva - Estava de férias no Brasil, voltaria a trabalhar no dia 12 de setembro, mas para evitar problemas com voos, aeroportos, antecipei meu retorno para o dia 10. A cobertura foi cansativa, difícil. E tínhamos, todos, que administrar a emoção. Lembro que aa noite, andando pela Terceira avenida, voltando para casa, vendo parte da cidade parada, silenciosa, deu uma tristeza imensa. Sozinha, chorei muito.É chavão, mas toda a nossa equipe, foi testemunha ocular de um fato histórico. E aquela foi, sem dúvida, a cobertura mais importante da minha carreira.

Como foi estruturada a cobertura que você faria do evento? Houve tempo de conversar com editores da Globo ou foi tudo no susto?

Houve, é claro, o susto, a surpresa, as dúvidas. Quando aconteceu o choque com a primeira torre, pensamos, todos, que era um acidente. Lastimável, lamentável, mas um acidente. Mas aí veio o segundo choque. Fui para a redação e assumi os "vivos", as entradas ao vivo, no início ainda por telefone. Nossa coordenadora Simone Duarte assumiu o comando. O tempo todo conversando com os diretores e editores no Rio e em São Paulo. O repórter Edney Silvestre e o repórter cinematográfico Orlando Moreira foram para o World Trade Center. Foram os primeiros jornalistas brasileiros a chegar ao local. Heloisa Vilela, Jorge Pontual, Sherman Costa e Hélio Alvarez foram para as ruas.

Qual era a reação dos colegas jornalistas, estrangeiros ou nativos, durante a cobertura? O que mais te chamou a atenção no meio de toda a confusão?

A primeira reação foi geral: a surpresa, as dúvidas. Tentar entender o que estava acontecendo. Lembro que ao entrevistar muitos americanos uma pergunta era comum, e com essa dúvida abri minha reportagem para o Jornal Nacional do dia 11. "Como aquele país podia ser tão vulnerável? O país mais poderoso do mundo." Mas houve também uma outra reação, também surpreendente e absolutamente correta. "Ninguém podia mudar um nada na sua rotina, ou seria a vitória dos terroristas." Ouvi muito essa declaração. E houve uma sensação geral de apoio aos Estados Unidos. Havia, ainda, a preocupação de tentar traduzir, passar um relato correto, objetivo do que estava acontecendo.

Você tem alguma história interessante para contar sobre aquele dia?

Conversar com os americanos naquele dia foi emocionante. Vê-los reagindo. À noite, a bandeira americana estava em quase todos os carros, em quase todas as janelas. A solidariedade dos jornalistas brasileiros e dos brasileiros que estavam lá. Muitos se oferecendo para ajudar de qualquer maneira. Os jornalistas brasileiros foram para o nosso escritório. Queriam ajudar. Foi surpreendente acompanhar também um país unido para recuperar NY. Os Estados Unidos, não é exagero, foram para Nova York. Mas houve um outro lado cruel. A imagem de pessoas se jogando, saltando para morte.

Em termos de cobertura, qual foi o maior desafio?

Manter a objetividade, com isenção, precisão e correção.

Hoje, como você enxerga o ocorrido? O que ficou, para o jornalismo e para o mundo?

Nunca antes acompanhamos uma transmissão como aquela. Uma tragédia, que mudou o mundo, transmitida ao vivo. Assistir, ver milhares de pessoas morrendo, e tendo de contar o que estava acontecendo para o Brasil. Sem perder, tentando não perder o foco, que era a informação. Foi muito difícil. Mas aí toda a equipe, lá, e no Brasil, trabalhou junto. E, sem dúvida, essa cobertura me ajudou a entender ainda mais essa nossa profissão. A ter muito orgulho dela.