Amazônia: cheia de pautas

Da redação *



Diante das dificuldades da cobertura jornalística no maior bioma brasileiro, encontro realizado pela revista IMPRENSA vai reunir, em Manaus, jornalistas brasileiros e estrangeiros para discutir pautas e abordagens sobre a floresta no noticiário


A Amazônia se desenha, para quem a vê das janelas dos pequenos aeroplanos que se deslocam sobre a floresta, como uma imensa mata uniforme, densa, homogênea. Os tons de verde variam, infelizmente intercalados por clarões de desmatamento. Mas se ao longe a Amazônia parece uma massa, de perto a floresta dá lugar a várias amazônias, com inúmeras faces do seu bioma, seus povos e seus problemas. Além de muitas dessas peculiaridades permanecerem inexploradas, as distantes redações continuam a observar a região amazônica como um bloco, nas matérias, reportagens ou artigos que se sucedem diariamente no noticiário. Atualmente, sustentabilidade, desmatamento, madeireiras, minérios, aquecimento global e outros tantos temas transformam-se em pauta nas redações das diversas mídias do país e do mundo, mas as dificuldades para essa cobertura são tão recorrentes quanto os temas.

O colunista da Folha de S.Paulo, Marcelo Leite, acredita que a Amazônia sempre esteve presente na cobertura da imprensa internacional, mas tomou grandes proporções após as discussões sobre sustentabilidade e aquecimento global: "Muitas pessoas, de dentro e de fora do país, estão preocupadas com duas questões: a preservação da biodiversidade e os serviços para a economia que englobam a geração de recursos hídricos e até mesmo exportação da umidade para diversas regiões", afirma. A jornalista e presidente da Associação dos Correspondentes Estrangeiros, Veronica Goyzueta, compartilha dessa opinião. Para ela, a dificuldade de se trabalhar em uma região tão extensa e de difícil acesso não é o fator principal, mas questões sociais, políticas e interesses econômicos que tornam a busca por essas matéria  inóspita e perigosa. Segundo Veronica, há ainda pautas inexploradas sobre "a questão indígena, demarcação de terras e exploração ilegal de recursos como minérios e madeira", entre outras. "Existem dificuldades de toda ordem, desde logística, pois a Amazônia é longe e extensa, até financeira, já que os veículos não possuem tanta verba", conta Marcelo. Por outro lado, o colunista acredita que falta mais pauta do que financiamento e que "uma boa idéia nas mãos" não faria o jornal deixar de investir na matéria.

O geógrafo Aziz Ab'Saber engrossa o coro, dizendo-se desconfortável com o desconhecimento e a falta de pesquisa adequada de alguns profissionais da imprensa. "Na França, certa vez, um aluno me procurou e pediu para que eu dissesse no Brasil que o minério que estão tirando dos Carajás está sendo transportado para fazer o túnel que liga a Inglaterra à França e que um dia os brasileiros acordariam sem minério nenhum", afirma Saber. E exemplifica: "No Amapá, onde estava a reserva de manganês, sobrou apenas uma depressão".

Boa parte da imprensa ainda está presa à velha e ultrapassada dicotomia "desenvolvimento versus proteção ambiental". "Quase ninguém [entre os jornalistas] sabe a quantidade de índios existentes e que somente no Brasil são faladas 180 línguas indígenas diferentes. Acabam chamando etnia de tribo, terra indígena de reserva, entre outras coisas", conta Marcelo.

Encontro

Para contribuir com o debate sobre a pauta "Amazônia" nos veículos brasileiros e estrangeiros e estimular o contato entre jornalistas, fontes governamentais, científicas e empresariais, a IMPRENSA Editorial realiza, de 3 a 5 de novembro de 2008, em Manaus, o "Fórum Latino-Americano Amazônia, Sustentabilidade & Imprensa" cujo tema é "Amazônia e o Século XXI". Além de construir um espaço de reflexão e troca de informações, o fórum vai apresentar uma pesquisa inédita, realizada pelo instituto Mídia B, em que será avaliada a presença de temas ligados a Amazônia em veículos brasileiros, europeus, estadunidenses e dos países da Amazônia legal. A partir desses resultados, os jornalistas poderão confrontar as diversas visões sobre a floresta e estabelecer prioridades.

O fórum é patrocinado pela Petrobras e Natura e se direciona aos jornalistas que trabalham pautas ligadas à região e ao meio ambiente. Os painéis vão discutir desde as dificuldades encontradas por estes profissionais na divulgação de conceitos científicos até o velho dilema sobre preservação versus desenvolvimento auto-sustentável.

* Colaborou Nadini Lopes.

Programação

ABERTURA – A MATA E SUAS VOZES: CONVERSAS TRANSAMAZÔNICAS.
PAINEL I – AS VISÕES DO JORNALISMO SOBRE A AMAZÔNIA EM REVISÃO: PESQUISA EXCLUSIVA.
PAINEL II – O JORNALISMO COMO MEDIADOR: A PAUTA AMAZÔNICA E OS INTERESSES NACIONAIS.
PAINEL III – UM PANORAMA DA AMAZÔNIA LATINO-AMERICANA: CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS.
PAINEL IV – POLÍTICA, ECONOMIA E PLANEJAMENTO SUSTENTÁVEL: OS CONFLITOS E OS ACORDOS.
ENCERRAMENTO – AMAZÔNIA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL & IMPRENSA.

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