A
transformação da mídia nas últimas
décadas trouxe pouco de positivo para os veículos
tradicionais, especialmente os jornais. Eles caíram
numa dura guerra pela sobrevivência,
com diversas frentes abertas ao mesmo tempo: queda de
audiência e circulação, a migração
da verba publicitária para os gigantes digitais
como Google e Facebook, e ataques constantes de políticos
que descobriram que a melhor maneira de disseminar ‘fake
news’ é acusar falsamente os meios de comunicação
de serem responsáveis pelas notícias falsas.
Nesse processo, um dos danos colaterais
sofridos pela mídia tradicional está sendo
a contínua perda do público mais jovem:
os jovens adultos que, à medida em que vão
abandonando os veículos tradicionais (ou nunca
chegam a utilizá-los), põem ainda mais
em risco a viabilidade a longo prazo de muitas redações
por todo o país.
Isso não equivale aos jovens estarem desinteressados
por informação. Muito pelo contrário.
E devemos resistir à explicação
preguiçosa da queda de audiência simplesmente
repetindo o que nossos pais afirmavam sobre o desinteresse
da nova geração que,
por sinal, já era uma repetição
do que os pais de nossos pais diziam sobre seus próprios
filhos.
Na realidade, numa pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa IDEIA exclusivamente para a TV Cultura e o Mídia.Jor sobre o consumo de notícias no Brasil, 84% dos jovens consultados se demonstraram interessados ou muito interessados por notícia – o mesmo nível de interesse registrado para aqueles entre os 25 e 34 anos, e não muito abaixo das pessoas mais velhas. E, pelo menos no Brasil, a televisão ainda impera como principal fonte de informação, com plataformas digitais e redes sociais em segundo lugar.
Para
resumir, a geração atual não está
perdida. São os veículos de comunicação
tradicionais que correm o risco de perdê-la
para sempre se não acharem formas e plataformas
que sirvam as necessidades deste segmento do mercado.
Aprendendo a ouvir
Essa
é uma das lições partilhadas por
Debbie Ramsay, atualmente editora da
Newsbeat da BBC de Londres. A Newsbeat
nasceu como o serviço de notícias para
a emissora de rádio jovem da BBC, a Rádio
1, e também para a 1Xtra, a emissora digital
criada para servir o público urbano jovem do
país. Hoje, Newsbeat é multimídia,
com conteúdo digital e em vídeo, além
dos programas de rádio, também com forte
presença onde os jovens estão: as redes
sociais.
Mesmo sem ter que se preocupar com receitas publicitárias
por causa de seu modelo de financiamento público,
a BBC enfrenta um desafio considerável
para justificar a taxa anual paga por cada domicílio
se continuar deixando de ser atraente para os jovens
adultos à medida em que sua audiência tradicional
envelhece e morre.
Para
Ramsay, o que é fundamental para que serviços
como os da BBC continuem sendo relevantes para o público
mais jovem é ouvir o que eles
têm a dizer e se adaptar às necessidades
deles.
A lição aprendida
pela BBC é espelhada pelo que o Canal
Reload está buscando fazer no Brasil.
Criado a partir da aliança de 10 sites digitais
de informação, com apoio financeiro do
Google, o Reload usa o material apurado pelos parceiros
para criar vídeos especificamente voltados para
um público mais jovem, usando
apresentadores e formatos que refletem seus gostos e
interesses. Isso também exige uma constante reavaliação
do material que gera e onde o Reload posta seu conteúdo.
Segundo
o diretor de vídeo do Reload, Hugo Cuccurullo,
um bom exemplo foi a adoção do TikTok
como uma das plataformas servidas pelo Canal. Quando
começaram, o TikTok foi descartado por, na época,
ter uma mínima penetração no mercado
brasileiro, mas o Reload rapidamente passou a criar
conteúdo para a nova plataforma quando
viu que o público jovem estava cada mais migrando
para lá.
O
Rádio 2.0
Um
dos caminhos que tanto meios tradicionais quanto nascentes
descobriram que pode levar a um público mais
jovem são os podcasts, um mercado
em plena expansão que também pode ser
uma fonte essencial de renda para os veículos
de comunicação. Nos Estados Unidos, o
formato já está rendendo mais de US$ 1
bilhão em receitas publicitárias, com
projeções ainda mais saudáveis
para os próximos anos. E produtos como o The
Daily do New York Times são
exemplos de como um podcast pode seguir os rigores jornalísticos
de uma redação tradicional e ainda conquistar
o público mais jovem.
Junto com os Estados Unidos, o mercado latino-americano
de podcasts, em português e espanhol, é
um dos que mais cresce no mundo. Como
o The Daily, produtos como o Foro de Teresina,
da Revista Piauí, também apostam em jornalismo
de qualidade como forma de atrair um público
mais amplo, incluindo ouvintes jovens.
O Foro de Teresina é de responsabilidade
da Rádio Novelo, uma produtora
brasileira especializada em podcasts. Mas uma das vantagens
é que, assim como vídeos no Youtube, Instagram
ou TikTok, podcasts podem ser produzidos por profissionais
independentes ou pequenos veículos de comunicação,
já que as demandas tecnológicas são
baixas. Mas qualidade, cuidado com o produto e um conteúdo
interessante ainda são ingredientes
essenciais para qualquer podcast vingar, como ressalta
Clara Rellstab, uma profissional de rádio que
fez a transição para a produção
e edição de podcasts na Rádio Novelo.
Como fazer um podcast
amador sem soar amador
Dicas
de Clara Rellstab, produtora e editora da Rádio
Novelo, para tirar uma ideia de podcast do papel direto
para os serviços de streaming
Deve
existir outras maneiras de começar esse texto
sem usar o clichê "todo mundo quer um podcast
para chamar de seu", mas não consegui pensar
em nenhuma frase que resumisse tanto o que vem acontecendo
com a podosfera no país. Mesmo se tratando de
uma mídia existente antes mesmo dos anos 2000,
o podcast caiu no mainstream no Brasil nos últimos
três anos – ainda que o primeiro programa
brasileiro do gênero tenha sido feito em 2004
e que programas como o NerdCast furassem a bolha e angariassem
milhares de ouvintes ainda em 2006.
Depois do sucesso do Presidente da Semana e do Café
da Manhã, ambos da Folha de S. Paulo, a maior
parte das redações brasileiras começou
a correr atrás de lançar os seus próprios
programas de notícias. Com os serviços
de streaming de áudio à toda e mais e
mais brasileiros adeptos a este tipo de conteúdo,
produtoras como a Rádio Novelo e produtores de
conteúdo como Ivan Mizanzuk, do Caso Evandro,
têm, sempre priorizando a qualidade do produto
final, inovado na forma e no conteúdo daquilo
que chega aos seus fones de ouvido.
Grandes produções à parte, talvez
uma das coisas mais fascinantes a respeito do podcast
reside no fato de que, sim, basta um microfone e uma
conexão com a internet, e qualquer um pode fazer
o seu programa e hospedá-lo em um serviço
de streaming. O que não significa, claro, que
todo mundo já vai nascer sabendo como fazer um
podcast de qualidade. Por isso, a convite do Mídia.JOR
2021, venho tentar resumir o básico do básico
desse trabalho árduo, mas extremamente prazeroso,
que é o de um podcaster, numa espécie
de um manual que decidi chamar de "Como fazer um
podcast amador sem soar amador".
1. Antes de qualquer coisa, ouça podcasts. Sobre
qualquer assunto. Mas ouça mesmo. Eu tô
falando de episódios e mais episódios,
nos mais diferentes formatos: mesa-redonda, entrevista,
narrativos. Escute e perceba como esses programas são
estruturados, o que neles te chama a atenção
e o que você não faria de jeito nenhum.
2. Descubra sobre o que você quer falar e reflita
se você possui o repertório que esse assunto
exige. Se sim e se não, dedique-se a pesquisá-lo
o suficiente para que você não fale besteira.
3.
Aqui entra uma coisa que o pessoal costuma chamar de
pitching, um anglicismo bonito para o nosso "vender
o seu peixe". Para que você convença
o seu ouvinte, o seu amigo, seu patrocinador ou a sua
empresa de aquilo vai dar certo, é preciso ter
as respostas para as seguintes perguntas na ponta da
língua:
a) Qual o tema central? Por que eu quero abordar esse
tema?
b) Qual o meu público-alvo? E por que esse público
me interessa?
c) Qual o formato (tempo de duração, periodicidade,
quem apresenta, há convidados, há seções/quadros
dentro do podcast)?
d) Qual o arco da minha temporada (quantos episódios
teria o projeto, quais seriam os temas desses episódios)?
e) O que já existe no mercado sobre esse assunto?
E o que este projeto tem de diferente?
4. Chegou a hora de pôr a mão na massa
e gravar o seu primeiro episódio. Comece a escrever
o roteiro do capítulo em questão. É
interessante que você o faça lendo-o em
voz alta, adaptando o vocabulário àquele
com o qual você se sente mais confortável
e que mais se pareça com o seu jeito de falar
coloquial. Se possível, peça para que
uma segunda pessoa de confiança o leia também
e sugira possíveis alterações.
5. Na hora de gravar dentro de casa, algumas dicas são
essenciais para conseguir uma qualidade mais próxima
àquela encontrada quando a gravação
é feita em estúdio. Escolha um horário
no qual o silêncio – ou mais próximo
dele – seja possível. Cômodos com
piso quente e que possuam poucas janelas são
mais adequados para uma melhor acústica. Os mais
preciosistas constroem uma espécie de "forte",
uma cabaninha rodeada por colchão, travesseiros,
edredom… Mas se não tiver como, não
tem problema. Posicione o seu celular, em modo avião,
numa pilha de livros, de forma que ele fique a dois
palmos da sua boca e aperte o play.
6. Com o áudio em mãos, partiu edição.
Há alguns programas de edição de
áudio gratuitos, como o Audacity, que possuem
diversos tutoriais de como operá-lo no Youtube.
É uma ótima maneira de começar.
Ouça o áudio bruto e tente identificar
onde você poderia encaixar uma música de
background, uma paisagem sonora ou um efeito sonoro
– mas sem pesar a mão, nada extra expositivo
é bom.
7. Depois de decidir o título, descrição
e pensar numa imagem que será o thumb do seu
programa, escolha a ou as plataformas de streaming em
que você deseja subir o seu podcast e faça
o upload do arquivo.
8. Com o episódio no ar, é a hora de divulgá-lo
para o mundo. E, para isso, você já sabe
que posts caprichados e pensados para cada uma das redes
sociais específicas são o melhor caminho.
A
Hora da Inclusão
Um
dos desafios dos veículos tradicionais no mundo
digital é que agora existem mais oportunidades
de diversificação, especialmente
para públicos tradicionalmente ignorados ou tratados
como coadjuvantes na sociedade.
Foi para cobrir uma dessas lacunas no mercado que surgiu
a Agência Mural, uma evolução
natural de um blog criado em 2010 para fornecer notícias
e inteligência sobre as periferias das cidades
que formam a Grande São Paulo.
Cerca de 60 ‘muralistas’, como a equipe
é conhecida, colaboram para a Agência Mural,
presentes nos bairros e áreas de periferia que
a agência cobre.
Para
o editor-chefe da Agência, Paulo Talarico,
a presença de muitos repórteres mais jovens
entre seus colaboradores é um fator que os ajuda
a desenvolver pautas e formatos mais sintonizados com
esse segmento da população.
A solução da Agência Mural é
extremamente simples e algo que deveria ser considerado
elementar nas redações: ela busca ouvir
os protagonistas da notícia. Um bom exemplo foi
a tentativa de entender, da perspectiva do jovem,
os motivos que os levaram a organizar bailes com aglomeração
durante a pandemia.
O jornalismo local está sendo,
sem dúvida alguma, o mais atingido e ameaçado
pela transformação do jornalismo na era
digital. O que sustentava as publicações
locais, como os classificados, praticamente desapareceu
da noite para o dia, destruindo um modelo comercial
e um ecossistema de informação que já
era frágil.
O fenômeno não se limita ao Brasil, com
redações contraindo ou fechando fora das
grandes cidades da América do Norte e Europa,
e empresas de comunicação correndo para
achar produtos e fontes de renda antes
que o dinheiro acabe.
O resultado pode ser catastrófico para a democracia
local e também pode privar os jovens
de fontes de informação locais confiáveis.
Por mais que vivam num mundo digital globalizado e sem
barreiras, o fato é que a vida de um jovem ainda
é, essencialmente, local para estudar, trabalhar
e socializar.
O problema é ainda mais agudo num país
continental como o Brasil, já que a medida em
que os veículos de comunicação
locais e regionais perdem força, a narrativa
sobre o país e seus cidadãos passa a ser
monopolizada pelo eixo Rio-São
Paulo.
No Nordeste, um grupo de jovens está buscando
corrigir o problema através da Cajueira, uma
newsletter voltada para o público da
região e nascida da frustração
sobre como os temas ligados aos estados nordestinos
são cobertos pela mídia do Sudeste.
A newsletter, produzida por um grupo de voluntários
que inclui Mariana Ceci de Natal, é publicada
quinzenalmente e é gratuita.
.
Oi,
tudo bem por aí?
Somos a Cajueira, uma curadoria em
formato de newsletter quinzenal criada para difundir
e conectar os conteúdos de jornalismo independente
produzidos nos estados do Nordeste.
Quando recebemos o convite para integrar a edição
do Mídia.JOR 2021,
pensamos muito em qual seria a melhor forma de colaborar
com a publicação. Decidimos que um caminho
massa é aquele que adotamos em nossos sete meses
de existência - uma conversa leve, mas com muito
pano pra manga.
A
Cajueira nasceu de quatro mulheres com um incômodo
em comum: a representação estereotipada
e rasa dos estados do Nordeste
feita pela mídia que se diz nacional. Há
anos, somos muitas vezes reduzidos à miséria,
chão rachado pela seca, corpos magros pela fome
e um espírito sempre resiliente e lutador. Símbolos
que acabaram sendo cristalizados no imaginário
popular, tentando, sem sucesso, homogeneizar um território
diverso.
Afinal de contas, temos
o maior número de estados entre as regiões,
e a segunda maior população do país.
Como esperar que seja tudo igual?
Quinzenalmente,
chegamos na caixa de entrada do e-mail dos nossos mais
de 1.100 assinantes para mostrar que não somos
“o Brasil profundo”, os “rincões
do país” ou apenas um lugar para férias
paradisíacas. Somos uma região diversa,
o terreno fértil onde crescem frutos deliciosos
do jornalismo independente.
Mais de 70 projetos já
brotaram nas nossas edições. São
podcasts, coletivos, plataformas de vídeos, rádios,
iniciativas de checagem de fatos, de dados, além
do jornalismo produzido sem amarras políticas
ou empresariais em cidades do interior. Nossa newsletter
mostra como a cobertura com olhar local, feita a partir
dos territórios, é importante. E nós
fazemos questão de expor a pluralidade das iniciativas
que colhemos, abordando assuntos diversos como política,
gênero, representatividade, cultura, futebol,
meio ambiente e história do Nordeste. Aliás,
sabia que foi no Rio Grande do Norte o primeiro voto
feminino do Brasil e a primeira mulher eleita prefeita
na América Latina?
A
Cajueira brotou no meio da pandemia, e acredita que
a maioria de nós nunca se encontrou pessoalmente?
O projeto é feito a várias mãos
e as curadorias quinzenais
são distribuídas de forma gratuita, porque
a gente entende a importância de difundir e conectar
o jornalismo independente nos estados do Nordeste, assim
como combater imagens gastas na mídia, que não
manifestam a realidade da região. Por isso, viemos
ao mundo com um manifesto.
A gente “chegou chegando”, afirmando nossas
crenças e compromissos. E tem sido massa ver
quanta gente pensa parecido… nossa comunidade
só cresce! Até lançamos um pix
recentemente para quem quiser semear junto com a gente.
Inclusive, o
financiamento é um dos maiores
desafios para os jornalistas que estão
lutando para fazer uma cobertura independente no Nordeste.
Para escolher os assuntos que vamos abordar em
nossas news, fazemos reuniões de pauta
e debatemos bastante. Depois partimos para a pesquisa.
Em nossa edição
4, por exemplo, fizemos uma curadoria
arretada de podcasts produzidos nos estados
nordestinos que inspirou muita gente a diversificar
os sotaques que rondam nos tocadores.
Aprofundamos assuntos que consideramos importantes e
do interesse de todos, como na nossa edição
6, que debateu o retorno das aulas presenciais.
Apesar disso, não nos furtamos dos temas quentes,
que ganham destaque nas redes e na sociedade. Aliás,
este ano o que não faltou foi debate sobre o
Nordeste, né? E a gente tá sempre atenta
à repetição de estereótipos
sobre os nordestinos.
Queremos
atingir todos os públicos, para isso, escolhemos
uma linguagem simples, direta
e falada para nos comunicar, fiel aos nossos
territórios, nossas gírias...
A gente interage com memes, com hype das redes
sociais. Temos um formulário aberto pra entender
mais sobre as expectativas dos nossos leitores. Quem
são, o que esperam ler.
Sabemos que atingimos muitos comunicadores, mas
também somos lidas por estudantes de comunicação.
Queremos ampliar nossa interação com os
alunos, não apenas de curso superior, porque
os debates que estamos levantando são muito transversais.
A partir do jornalismo a gente discute geografia, história,
gênero e regionalismos. Nós enfrentamos
barreiras de preconceitos e medos como profissionais
nordestinas, quem sabe as novas gerações
já possam estar livres disso.
Acreditamos que o sucesso da Cajueira
está aí: Estamos aqui para afirmar que
a tal “pauta regional” -- um recurso editorial
de grandes grupos de mídia para invisibilizar
temas que acontecem fora do eixo Sul-Sudeste - é,
na verdade, pauta nacional.
Na Cajueira, assim como na vida, a diversidade
é regra, não exceção.
No jornalismo, não deveria ser diferente. Por
isso, clique
aqui e assine se cansou de ler notícias
apenas sobre um pedaço do Brasil.
Com amor,
Cajueira.
Outro
exemplo de novo conteúdo voltado para um público
segmentado e com um perfil mais jovem é AzMina,
um conceito que vai além do jornalismo aberto
e claramente feminista, incluindo projetos tecnológicos
voltados para a igualdade de gênero, palestras,
campanhas e consultoria. Desde sua criação
em 2015, AzMina já ganhou diversos prêmios,
incluindo o Leão do Festival de Cannes e o Troféu
Mulher Imprensa em 2017.
As
criadoras do AzMina partem dos mesmos princípios
que definem produtos inovadores e voltados para jovens:
uma redação que escuta seu público,
usa linguagem e estilo mais alinhados com o público-alvo,
e parte do princípio de que mulheres e jovens
não formam um só grupo homogêneo.
Primeiro,
o jornalismo
Nem
todas as redações, tradicionais ou digitais,
acreditam que seja essencial criar novos canais ou conceitos
para atrair um público mais jovem. Para Mateus
Netzel, do site de informações
políticas Poder360, a prioridade é a qualidade
do jornalismo.
Segundo Mateus, o Poder360
adotou uma abordagem que inclui presença nas
redes sociais, mas evita a adaptação de
suas matérias com linguagem e formato mais alinhados
com o público jovem. A fórmula, segundo
ele, está dando certo.
”O
que o jovem se interessa? O jovem se interessa por tudo.
Tem jovem que se interessa por política, por
games, esporte, economia, mídia, tecnologia.
A questão é menos o conteúdo e
mais como você chega nestas pessoas de uma forma
que elas naturalmente consumam aquele conteúdo,
seja de jornalismo ou de outra natureza”,
afirma Mateus Netzel.
Os
modelos e conceitos podem variar, mas uma preocupação
é comum a todos que buscam formas de
informar, e não desinformar, um público
mais jovem tão exposto à enxurrada de
informação que passa pelas redes sociais
todos os dias sem qualquer crivo ou controle de qualidade.
Para Felipe Saldanha, pesquisador do
Núcleo de Comunicação e Educação
da USP e diretor de comunicação da Associação
Brasileira de Pesquisadores e Profissionais de Educomunicação
(ABPEducom), antes de mais nada, é importante
lembrar que os jovens não distinguem claramente
o que é notícia, informação
ou comentário, misturando tudo como informação
em geral. Saldanha também se preocupa com o ‘efeito
bolha’, com os usuários de redes sociais
se expondo somente ao que o grupo pensa ou acha, limitando
o acesso a novas informações que possam
expandir nosso horizonte e ajudar a repensar nossas
posições.
Não
há falta de opções e experimentos
para buscar atingir um público mais
jovem, mas os veículos tradicionais, por inércia
ou dificuldades de entender a transformação
do consumo de mídia no Brasil e no mundo, correm
o risco de perderem os já enfraquecidos laços
que têm com o segmento.
Este foi um dos pontos levantados na live realizada
pelo Mídia.Jor, em parceria
com a TV Cultura, que contou com a participação
de representantes de veículos tradicionais, como
o Grupo Bandeirantes, o Grupo RBS e a CNN Brasil, além
de novos veículos como o Nós, Mulheres
da Periferia.
Para os participantes, as frentes de ação
necessárias são muitas, indo da necessidade
dos meios de comunicação se adaptarem
à nova realidade de consumo mais personalizado
à necessidade de reinventarem o modelo de negócio,
já que não podem mais depender da publicidade
para pagar as contas.
O desafio é maior ainda num clima de ataques
ao jornalismo ao mesmo tempo em que a desinformação
se transforma num dos maiores problemas atuais–
e talvez ainda mais preocupantes em relação
aos jovens, cada vez mais conectados e informados pelas
redes sociais, onde jornalismo com credibilidade acaba
ocupando os mesmos feeds onde aparecem informações
distorcidas ou totalmente falsas.
Como
ressaltado por especialistas de serviços que
vão de veículos centenários
como a BBC a meios novos e 100% digitais como o Canal
Reload, o primeiro passo para conquistar esse público
é ouvi-lo, entendê-lo e criar produtos
que satisfaçam as necessidades dele.
No mundo digital, as redações estão
tendo que aprender, de forma dolorosa, que não
podem mais ignorar a audiência como podiam na
era analógica.
E ignorar o público mais jovem é particularmente
arriscado. Afinal, como ressaltou a repórter
Patrícia Villas-Boas da Agência Mural,
“ignorar os jovens é ignorar o
futuro”.
E não é só o futuro dos veículos
de comunicação que está em perigo.
Sem criar formas de fazer com que a informação
com credibilidade e rigor chegue aos jovens, também
ignoramos o futuro do país como um todo.
“Não
gostaria de estar na pele do jornalista hoje em dia.”
Foi assim que o diretor do Instituto de Pesquisa IDEIA,
Maurício Moura, reagiu ao resultado da pesquisa
inédita no Brasil sobre consumo de informação
conduzida por sua empresa especialmente para a TV Cultura
e o Mídia.Jor.
Para Moura, a pesquisa mostra que o Brasil (como outras
partes do mundo) tem um sério problema com as
chamadas fake news, o que é agravado
pelo fato de que conteúdo gerado por marcas de
jornalismo com credibilidade acabam ficando lado a lado
nas redes sociais com material sem credibilidade ou
falso.
A edição deste ano do Digital News Report
do Instituto Reuters de Jornalismo
confirma o problema em nível mundial. Em entrevista
a Maria Luiza Abbott, o autor da pesquisa, Nic Newman,
disse que países como o Brasil mostraram um forte
aumento de preocupação com notícias
falsas em um ano dominado pela pandemia.
Para Nic Newman, esse é um dos grandes desafios
para os meios de comunicação, à
medida que o público mais jovem abandona os meios
tradicionais e consomem informação por
plataformas sociais.
A
pesquisa feita pelo IDEIA confirma que a televisão
ainda é a fonte de informação mais
importante no Brasil, mas cada vez mais ameaçada
pelas plataformas digitais, incluindo as redes sociais.
Ela também mostra que os blogs estão ganhando
força, especialmente como fonte de informação
local fora dos grandes centros urbanos, enquanto os
podcasts estão ficando tão populares quanto
o rádio tradicional.
O
Mídia.JOR é um projeto da Revista e Portal
IMPRENSA e tem como objetivo discutir o futuro
do jornalismo.
Clique
aqui para o resultado completo
da pesquisa “Hábitos de Mídia do
Brasileiro”.
Se você chegou até aqui, vale ler o texto “É Hora de
Desjornalizar o Jornalismo?” com os insights do curador
Lúcio Mesquita. Acesse o conteúdo
exclusivo da Revista IMPRENSA.