Hoje
em dia, é praticamente impossível encontrar uma grande
empresa que não tenha políticas de ESG. O conceito,
do inglês Environmental, Social e Governance,
surgiu como uma ideia na ONU de convencer o mundo das
finanças a considerar não só lucros, mas também fatores
ambientais, sociais e de transparência no momento de
decidir em que investir.
Hoje,
fundos de investimentos especializados analisam as políticas
e riscos de ESG antes de incluir ações de empresas em
suas carteiras de ativos. Na realidade, ativos ESG poderão
chegar a mais de US$ 50 trilhões até 2025 – mais de
um terço do total de ativos administrados em todo o
mundo.
A
edição do Mídia.JOR de 2022 tem como objetivo ajudar
os profissionais da comunicação a melhor entenderem
o que é ESG, qual é o contexto internacional, as oportunidades
e riscos que existem na cobertura e qual é o papel do
jornalismo na cobertura da agenda ESG.
ENTREVISTA
A
cobertura de temas ESG expõe desafios mais profundos
encontrados nas redações por todo o mundo. A análise
é do professor Subbu Vincent, diretor do Departamento
de Ética em Jornalismo e Mídia da Universidade de Santa
Clara, na Califórnia. Para ele, é menos uma questão
de redações terem especialistas em ESG e mais uma questão
do jornalismo estar focado na abordagem certa e melhor
refletir a sociedade para quem ele reporta. Além disso,
Vincent ressalta que as empresas de comunicação também
têm uma obrigação de lidar seriamente com questões de
ESG que tocam suas próprias operações.
Subbu
Vincent
Diretor, Departamento de Ética em Jornalismo e Mídia
Universidade de Santa Clara, California
Mídia.JOR – A agenda ESG do jornalismo
Por Lúcio Mesquita
Para quem está na profissão (ou no mundo) há mais tempo, o modismo e os riscos de falar de ESG hoje parecem repetir a coqueluche da ISO nas décadas de 80 e 90 no Brasil.
Na época, as empresas anunciavam suas certificações pela ISO (a International Organization for Standardization) como se fosses provas de suas qualidades em geral. Realmente, ter a certificação era e continua sendo importante – o que as empresas tendiam a esconder era o fato de que, muitas vezes, o selo ISO valia para aspectos limitados de produção ou produtos, não para a empresa como um todo.
Ao tratarmos dos princípios do ESG – environmental, social e governance, na sigla em inglês – corremos o mesmo risco, até mesmo porque seus princípios surgiram de algo bem específico: a necessidade de investidores irem além do retorno financeiro como critério de investimento e considerar o impacto ambiental, social e de governança do negócio.
Ou seja, políticas de ESG de empresas são cada vez mais importantes, mas vale lembrar que o foco principal aqui é a ‘investibilidade’ do negócio por parte de investidores que usam o critério, e os riscos ao negócio (e, portanto, ao investimento) gerados por questões ambientais, sociais ou de governança.
Carvão social
Para quem acha que os princípios de ESG são novidade no mundo dos negócios, vale prestar mais atenção na história do capitalismo e da revolução industrial.
Não há dúvida nenhuma que o nascimento da revolução industrial no Reino Unido no século 18 trazia consigo praticamente nenhuma preocupação com questões de ESG: o uso de carvão para gerar energia a vapor (e, depois, elétrica) destruiu a qualidade do ar das grandes cidades britânicas; os empregados eram tratados como matéria prima, sem praticamente nenhum direito, e crianças faziam parte da mão-de-obra (enquanto a escravidão gerava recursos e mão-de-obra gratuita nas colônias); e a era vitoriana viu enormes progressos, mas também especulação e picaretagem nas bolsas de valores, quebrando muita gente no caminho.
Mesmo neste mundo do vale-tudo, muitos empreendedores da época também viram a importância de um capitalismo mais humano, que levasse em conta as comunidades onde atuavam. Aos poucos, foram surgindo os bairros construídos por empresas para dar aos empregados melhores condições de vida, enquanto foram surgindo os primeiros conceitos de previdência e medicina empresarial.
Vimos um pouco disso no Brasil também até a chegada dos destrutivos anos 80, quando empresas foram fechando ou entregando para o governo tudo que podiam – hospitais, ambulatórios, escolas etc. – para cortar custos na década perdida.
Ativismo em investimentos também precede a chegada formal do conceito de ESG.
Por exemplo, o movimento nos EUA contrário à Guerra do Vietnã fez pressão para que empresas deixassem de estar envolvidas direta ou indiretamente no conflito. O mesmo ocorreu contra empresas com investimentos na África do Sul durante o apartheid.
Todas essas iniciativas criadas em busca de um capitalismo mais social criaram as condições para que, já neste século, o conceito de ESG fosse criado.
Sopa de letras
O mundo das siglas é um pouco parecido com o mundo das leis no Brasil – umas pegam mais que as outras.
O ESG teve a mesma sorte de ‘pegar’ que teve o BRICS, outra sigla criada para investimentos, no caso a partir de um pesquisador da Goldman Sachs, Roopa Purushothaman, e popularizada por um de seus executivos, Jim O’Neill, para melhor definir as principais economias emergentes da época (na realidade, começou como BRIC, ganhando o ‘S’ com a adição mais tarde da África do Sul).
No caso do ESG, a invenção foi de James Gifford, um estudante de PhD de economia australiano que, com seu entusiasmo por questões ambientais, conseguiu um estágio e, depois, emprego na unidade da ONU criada na Suíça para estudar e promover iniciativas financeiras ligadas ao meio ambiente.
A ideia inicial, gerada no começo do século, era focar no desenvolvimento de títulos por empresas e governos com o objetivo de financiar melhorias ambientais, sociais e de governança por todo o planeta.
E o projeto tinha, entre seus principais alvos, os fundos de pensão devido ao impacto que têm no setor financeiro.
Para entender a importância que nossas aposentadorias têm no mercado financeiro, vale lembrar que, no final de 2021, os fundos de pensão nos 22 maiores mercados globais somaram US$ 50 trilhões em ativos. Juntos, esses ativos dos fundos de pensão seriam suficientes para adquirir à vista as seis maiores economias do mundo, com direito a troco.
A estratégia deu certo e ESG virou um critério importante nas decisões de muitos fundos de pensão, num processo que, na prática, criou um novo mercado de investimentos.
Bom ou ruim?
A princípio, a crescente popularidade do conceito de ESG deve ser vista como algo bastante positivo, com empresas passando a visar lucros financeiros e societais ao mesmo tempo.
Foi este raciocínio que levou Laurence Fink, o fundador da gigante de investimentos BlackRock, a dizer em 2018 que ‘não basta que toda empresa desempenhe financeiramente, mas que também contribua positivamente para a sociedade’.
Junto com outras gigantes globais, a BlackRock criou fundos de investimentos especializados em empresas que obedecem a certos critérios ambientais, sociais e de governança como poluição, proteção de dados, políticas trabalhistas, diversidade etc.
Mas, num artigo para o New York Times em setembro deste ano, o empreendedor e hoje professor da Stern School of Business da New York University, Hans Taparia, acusou este tipo de investimento de ser uma espécie de golpe, por esconder o que realmente ocorre no mercado.
Para ele, o problema é que o principal objetivo desses fundos continua sendo o de dar o maior retorno possível aos investidores sem levar em conta aspectos mais amplos do impacto positivo ou negativo das empresas em questão.
Taparia cita o fato dos índices criados para demonstrar as credenciais ESG de empresas estarem mais interessados no grau de exposição delas a riscos de ESG do que suas políticas de sustentabilidade e a contribuição delas para as comunidades onde operam.
Tons de cinza
Mas como a agenda ESG chegou – parece – para ficar, o importante é saber como cobri-la.
Vale começar pela maior dificuldade que jornalistas e a sociedade em geral tendem a enfrentar, especialmente em tempos de polarização: uma visão de alternativas distintas, como preto ou branco, quando, na realidade, vivemos num mundo com diversos tons de cinza.
Para o jornalismo, é importante começar com o fato de que, muito provavelmente, as credenciais de ESG de uma empresa não significam que está fazendo tudo o que poderia fazer para reduzir aspectos de suas operações com impacto na sociedade.
E os jornalistas deverão ficar atentos para tentativas de empresas de usar a agenda ESG como um instrumento de relações públicas, com mais interesse na forma do que na substância de suas atitudes.
É por esse caminho que surgem as acusações de ‘greenwashing’, quando empresas promovem políticas ou atividades ambientais de baixo impacto prático, mas alto impacto de imagem.
O mesmo ceticismo vale para políticas de envolvimento social, de inclusão e representatividade em seus quadros, e em questões de transparência e governança.
Mas, igualmente, não devemos ignorar as tentativas críveis e sensatas de empresas em busca de um melhor equilíbrio entre lucro e comprometimento com quem e onde elas atuam.
O Brasil tem ótimos exemplos de empresas atuando em questões ambientais e sociais que merecem tanta (ou mais) exposição quanto os casos de uso da agenda ESG para esconder problemas ou promover uma imagem mais favorável ao negócio ou ao setor.
Close Up
A cobertura da agenda ESG sofre com outro problema que é endêmico no jornalismo brasileiro (e mundial).
Em parte por causa da forma como redações são estruturadas, com editorias separadas de economia, política, cidades etc., e em parte por causa da constante busca de algo novo para cobrir, acabamos cobrindo temas importantes como o meio ambiente ou negócios em porções pequenas e isoladas, quase sempre em close up quando deveríamos estar vendo os acontecimentos através de um drone fotográfico.
Como observou recentemente Leão Serva, diretor de jornalismo da TV Cultura, que é parceira novamente do Mídia.Jor, as notícias relevantes a questões como violência ou meio ambiente podem até estar presentes, mas ficam espalhadas pelas editorias de uma redação, com os jornalistas raramente pondo tudo junto para que possamos entender o que realmente está acontecendo.
Mesmo com o ceticismo que merece, a agenda ESG pode trazer benefícios consideráveis, especialmente num país com sérios desafios ambientais, uma das sociedades mais desiguais do mundo e um nível de opacidade tanto no setor público quanto privado que cria condições perfeitas para problemas como corrupção.
Mas, para ter os efeitos necessários, caberá aos jornalistas entender a diferença entre ações autênticas e RP disfarçado de ESG. E entender a significância das atividades de ESG como um todo, não ações isoladas.
Com sorte, o Mídia.Jor deste ano contribuirá para que acertemos na cobertura.
O
Beabá do ESG
Conversamos com a repórter da EXAME, Marina Felippe, para entender o que é, o que não é, como cobrir e quais são as oportunidades e riscos da pauta ESG.
O que é ESG?
ESG é só investimento ou vai além?
Como o jornalista deve estar alerta para evitar o RP do ESG?
AO
VIVO
Live
1 – Quem acredita no ESG?
De desconfiados a engajados, o jornalismo ainda tem muito para discutir sobre a agenda ESG. Para além da teoria ou da filantropia, o Google Trends mostra que o Brasil foi o país latino-americano que mais pesquisou a sigla ESG nos últimos meses. Ano passado, o mercado brasileiro bateu a marca de 54 bilhões de reais em fundos verdes. Em 2021, a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) criou uma comissão para definir o que o mercado pode chamar de fundos de ESG para conseguir separar do chamado “ESG-washing”.
Mas, o que é exatamente o ESG na prática, como deve ser tratado como pauta nas redações e como podemos evitar cair no golpe da propaganda disfarçada de capitalismo engajado com questões sociais e ambientais importantíssimas para o futuro do Brasil? Por que a governança das empresas brasileiras aparece de forma mais contundente?
Nesta
live, no dia 15 de novembro, terça-feira às 15h, o diretor
de jornalismo da TV Cultura Leão Serva e curador Lúcio Mesquita
conversam com jornalistas e especialistas. O bate-papo irá
destrinchar melhor o E, o S e o G do ESG, busca entender seus
benefícios, riscos e abusos, além de compreender suas conexões
e como a cadeia produtiva interfere na certificação.
Bom
jornalismo é aquele que reporta com o contexto em mente, já
que fatos isolados nem sempre contam a história toda. É aquele
que checa as informações e investiga.
A
boa cobertura de ESG – a agenda ambiental, social e de governança
do setor produtivo - exige um cuidado ainda maior. Afinal,
boas ações específicas podem esconder – acidentalmente ou
de propósito – questões muito mais graves.
Mas
como podemos garantir que nosso jornalismo cubra bem questões
amplas e complexas, como enfrentar os inúmeros desafios sociais
e ambientais, em tempos de redações reduzidas e a corrida
constante contra o tempo no mundo da informação e das redes
sociais?
Nesta
live da TV Cultura, no dia 17 de novembro, quinta-feira às
15h, o jornalista Leão Serva e o curador Lúcio Mesquita conversam
com jornalistas e especialistas para melhor entender como
devemos cobrir temas isolados, como os relativos à agenda
ESG, sem perdermos o contexto e as conexões entre pautas,
independentemente de serem de economia, política, saúde, cidade,
educação ou meio ambiente. Afinal, qual é o papel do jornalismo
na cobertura da agenda ESG?
ENTREVISTA
À
medida em que a pauta ESG ganha mais espaço na
mídia, o tema também ganha mais importância
junto àqueles que trabalham em comunicação
empresarial. Como sempre, pode haver tensão entre
aqueles que querem emplacar uma pauta ESG e jornalistas
que temem estarem fazendo apenas o RP de empresas. A
Cognito é uma agência internacional de
comunicação especializada no mundo de
finanças, tecnologia e transição
climática. Ela publica um estudo anual sobre
o estado das comunicações ligadas à
questão da sustentabilidade no setor financeiro.
Charlie Morrow, diretor da Cognito em Londres e um dos
co-autores do relatório, analisa os pontos positivos
e negativos da cobertura ESG atualmente.
Charlie
Morrow - Diretor da Cognito
QUAL IMPORTÂNCIA MERECE A ESG?
Reflexões sobre a relevância da produção de conteúdo de uma sigla que extrapola as citações em relatórios e planejamentos corporativos
Por Fabio Rubira
Muitos jornalistas fazem uma associação imediata sobre as discussões possíveis quando recebem uma pauta relacionada a ESG. Outros precisam pesquisar a sigla em inglês usada pelo mundo corporativo para abordar práticas comprometidas com questões ambientais (environmental), sociais (social) e de governança (governance).
Editorias focadas em mercado financeiro e economia costumam tratar com mais frequência dos temas envolvidos, em coberturas ou espaços fixos. As abordagens sobre desigualdade, no entanto, e até a ampliação do debate envolvendo pluralidade e democracia, no "S" da temática, acabam sendo preteridos.
Especialista na área, a jornalista, apresentadora e escritora Rosana Jatobá é defensora da agenda ESG como "questão de sobrevivência dos negócios" e comemora a "ampla cobertura" da mídia, com os conteúdos ocupando "um bom espaço nos principais veículos".
Já a professora Michelle Prazeres, pesquisadora e idealizadora do Desacelera SP e do Dia sem Pressa, alerta que "a comunicação gera o fenômeno de se colocar um mero selinho" de ESG sem aprofundar o ideal de uma "consistência prática". Ela afirma não ter certeza se os profissionais que escrevem sobre o tema "têm plena consciência do que realmente se trata".
Acompanhe a seguir as análises e ponderações.
ROSANA JATOBÁ , jornalista, apresentadora e especialista em ESG
IMPRENSA - Os princípios ESG têm qual relevância diante dos custos de investimento e uma sedução do apelo midiático e de marketing?
Rosana Jatobá -A agenda ESG virou um mantra no mercado e suscitou um aprofundamento por parte dos veículos de comunicação. O Google Trends mostra que o Brasil foi o país latino-americano que mais pesquisou a sigla nos últimos 12 meses. E está entre os 25 países que mais se interessam pelo tema.
A plataforma de monitoramento digital Stilingue em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global da ONU mostra que a menção ao ESG nas redes sociais aumentou mais de sete vezes desde o ano passado.
É um assunto que já ocupa um bom espaço nos principais veículos em publicações tradicionais como Exame e Estadão e portais especializados como Capital Reset e Um Só Planeta, que reúne as empresas do grupo Globo.
Trata-se de um outro nome para as questões de sustentabilidade?
O termo ESG não é a nova roupagem da sustentabilidade, que é algo mais amplo. O campo de atuação ESG envolve o impacto das operações e de sua cadeia produtiva. Além do que, os estudos comprovam que sustentabilidade rima com rentabilidade.
Os indicadores ESG para aplicar recursos são analisados por 90% dos gestores de fundos. E os investimentos sustentáveis já atingiram a marca de 35,3 trilhões de dólares, representando 36% dos ativos totais no mundo segundo o The Global Sustainable Investment Review 2020.
No Brasil houve um crescimento de 50% nos últimos cinco anos nos fundos que se apresentam como sustentáveis. No ano passado a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro (Anbima) criou uma comissão para definir o que o mercado pode chamar de fundos ESG, para dar mais exatidão e conseguir separar o real do greenwashing.
De fato, as práticas e os índices já existiam, mas eram isolados. Então, ter um selo ESG com todos os fatores aglutinados ajuda nas decisões de investimento porque dão um panorama maior das empresas.
Seria um modismo internacional tratado com superficialidade na produção de conteúdo?
Não se trata de modismo e sim de uma mudança estrutural e uma revolução. É um novo padrão no mundo empresarial e no mercado de capitais, que acaba com a lógica do capitalismo selvagem que visa o lucro a qualquer custo. Entra o chamado capitalismo verde, ou dos stakeholders, que contempla todos os interessados. Um novo modelo que se preocupa com a qualidade de vida, preservação do meio ambiente e as futuras gerações. Nessa lógica, o propósito vem antes do lucro.
E não tem que ser bom apenas para os acionistas. Todos os elos da cadeia devem ser valorizados.
Pode parecer algo utópico, mas não é. Simplesmente pelo fato de que não se trata de benevolência. É questão de sobrevivência dos negócios.
É um assunto com necessidade absoluta ou corre o risco de ser uma pauta eventualmente esgotada e esquecida?
É determinante para a prosperidade e longevidade da empresa. Vários fatores explicam essa urgência, como o despertar da sociedade por um mundo mais justo e ambientalmente saudável, que leva a uma maior cobrança por melhores práticas; o protagonismo das novas gerações como Y e Z, que se importam com valores democráticos, racismo, homofobia, crueldade animal, mudança climática etc. E a constatação de que o sistema ESG funciona como um mecanismo de proteção das empresas e ajuda a reduzir o risco financeiro. A grande crise em 2008 foi provocada exatamente por falhas na governança. A integração ao sistema ESG traz aos negócios um ganho definido na receita.
MICHELLE PRAZERES, pesquisadora e idealizadora do Desacelera SP e do Dia sem Pressa
IMPRENSA - Qual a relevância efetiva dos princípios ESG?
Michelle Prazeres - A comunicação e as tecnologias viraram infraestrutura do mundo, com uma centralidade muito grande. E isso faz com que muitas empresas procurem dar visibilidade a esses princípios mais do que uma preocupação em dar consistência a eles, do ponto de vista da coerência mesmo. Algo como "é mais importante parecer ser, do que ser de fato".
Diante disso, a relevância ESG está muito além de falar que tal organização é comprometida. As práticas têm que fazer sentido para dentro. A empresa deve ter, de fato, um comprometimento com os valores de cuidado.
A comunicação gera esse fenômeno de se colocar um mero selinho que não tem, na verdade, consistência prática. Não adianta tomar iniciativas que tangenciam o problema se não são oferecidas condições que culturalmente vão sustentar, de fato, a preocupação.
A ideia dos pilares do ESG precisa ser integrativa, da vida humana e na terra ecológica. E não nesse sentido apenas de "parecer ser".
Trata-se de uma compreensão que faz parte da produção de conteúdo entre os profissionais envolvidos?
Não é pesquisa científica ou algo feito com rigor. Mas tenho a impressão de que há um benefício de falar mais sobre sustentabilidade. Não sei se todos que tratam disso têm plena consciência do significado real.
Além do que, sempre vai existir um risco, quando surge um novo nome, de virar uma espécie de modismo. Então, agora todo mundo está preocupado em estar conectado com ESG.
Mas também existe o benefício de pautar o tema na sociedade e levantar algumas provocações. Há muitas compreensões do ESG em disputa, com setores defendendo a ideia de que o conceito deve ser humano, orgânico, transformador, cultural e criar ambientes que cuidem das pessoas, do ambiente, do planeta e do próprio universo do trabalho.
A problemática ESG vem sendo discutida com dedicação na produção de conteúdos jornalísticos?
O papel do jornalismo é sempre o de aprofundar. Tento resgatar um pouco desse sentido na minha pesquisa sobre o fast e o slow na comunicação.
Vivemos num mundo acelerado, de hiperinformação e excesso de dados, uma enxurrada com acesso cotidiano de desinformação. As pessoas tendem a se apropriar de tudo, especialmente nas redes sociais, de forma muito superficial. E isso favorece a lógica do "não preciso ser" e sim do "só preciso parecer ser".
O jornalismo tem um papel de fiscalizar, anunciar de fato e tratar com profundidade, mostrando a complexidade e trazendo as múltiplas compreensões.
A pauta ESG deve ou não receber uma atenção especial em busca de relevância e alcance com a audiência?
Como tudo que ganha grande apelo e visibilidade, é papel sim do jornalismo abordar. Precisamos dar visibilidade ao tema e fazer isso com a profundidade que caracteriza a boa comunicação.
Seria uma tentativa de adivinhação apostar se vai ser uma agenda ou pauta esquecida. Corre o risco de virar mais um termo que teve seu momento e desapareceu. Faz parte também das disputas dos vários campos definir se vai se chamar sustentabilidade, minimalismo, essencialismo, slow ou ESG.
O paradigma e o entendimento, para mim, são os mais importantes. A ideia associada ao ESG, que é de integração múltipla para a nossa coexistência e convivência com a natureza, o mundo do trabalho, o consumo, o entretenimento, trazendo tudo para um mesmo lugar de organicidade, não vai morrer caso a palavra desapareça. Provavelmente vai ganhar novos contornos e vai continuar presente e se apresentando como uma necessidade.
2021:
mídia.JOR 7ª edição
– Futuras Gerações
A transformação da mídia nas últimas
décadas trouxe pouco de positivo para os veículos
tradicionais, especialmente os jornais. Eles caíram
numa dura guerra pela sobrevivência, com diversas
frentes abertas ao mesmo tempo: queda de audiência
e circulação, a migração
da verba publicitária para os gigantes digitais
como Google e Facebook, e ataques constantes de políticos
que descobriram que a melhor maneira de disseminar ‘fake
news’ é acusar falsamente os meios de comunicação
de serem responsáveis pelas notícias falsas.
2020:
mídia.JOR 6ª edição
– O Dono do Conteúdo, na era do jornalismo
compartilhado
A expertise de jornalistas brasileiros e estrangeiros
para discutir, analisar e compartilhar experiências
sobre os tipos de conteúdo que estão despontando,
as diferentes formas de difusão e a sustentabilidade
econômica.
2019:
mídia.JOR 5ª edição
- Inteligência Artificial no Jornalismo
O potencial da IA para gerar um jornalismo mais forte,
com base na expertise de redações brasileiras
e internacionais.
2018:
mídia.JOR 4.0 - O Jornalismo Exponencial
Discussões e experiências da indústria
4.0 e das novas tecnologias para o futuro do jornalismo.
2014:
mídia.JOR 3ª edição
- O presente e o futuro do jornalismo e da comunicação
Debates sobre jornalismo e tecnologia, o mercado publicitário,
invasão de privacidade na cobertura do entretenimento,
e anonimato na era digital.
2013:
mídia.JOR 2ª edição
- O jornalismo contemporâneo e a complexidade
da profissão
Destaque para os desafios na cobertura de conflitos,
a cobertura esportiva, a vida dos correspondentes e
o jornalismo investigativo.
2012:
mídia.JOR 1ª edição
- 25 anos de IMPRENSA e as mudanças no jornalismo
Celebração do aniversário de IMPRENSA
com homenagem ao jornalista José Hamilton Ribeiro.
Debates sobre os rumos e as mudanças no jornalismo,
com foco na sua visão como negócio, os
desafios da cobertura 24 horas e a informação
globalizada na mídia.
CURADOR
Lúcio Mesquita é jornalista brasileiro
que mora na Inglaterra há mais de 25 anos. Passou
pelo mais alto escalão da BBC, foi diretor-chefe
da BBC Brasil, Américas e Europa, da BBC Monitoring,
entre outros cargos na empresa londrina. É consultor
da Innovation Media, consultoria internacional especializada
em transformação de empresas de comunicação.
Pela sua função profissional, desenvolveu
a habilidade de media watcher.
FICHA TECNICA MÍDIA.JOR 8ª EDIÇÃO
•
Projeto: Sinval de Itacarambi Leão, Lúcio
Mesquita e Alexandra Itacarambi
• Curadoria: Lúcio Mesquita
• Direção geral: Alexandra Itacarambi
• Design de ambiente digital: Cris Pedott
• Solução e desenvolvimento de web:
Paulo Toledo
• Direção de arte, edição
e finalização de vídeo: Cris Pedott