Dos mais de quarenta países que visitou, o publicitário
Ricardo Freire não precisa pensar duas vezes para
dizer qual é seu destino favorito: "Se me
perguntarem por que viajo tanto, vou responder:
é para ver se encontro algum lugar mais encantador
que o Rio de Janeiro. Ainda não encontrei".
Figura conhecida na publicidade, por ter criado
bordões como “não é assim nenhuma Brastemp”, Freire
também é criador do primeiro blog de turismo profissional
do Brasil. Há exatos dez anos surgia o Viaje
na Viagem, considerado hoje referência para
quem está planejando seu próximo destino.
“O
Viaje na Viagem surgiu no finzinho de 2004, quando
eu percebi que a ferramenta blog estava bastante
amigável - e o que era melhor: era gratuita, ao
contrário da hospedagem de sites, que ainda era
caríssima”, conta Freire.
Com
uma média de 800 mil visitantes únicos por mês,
o espaço mantém sete colaboradores e recebe todos
os dias de 60 a 200 perguntas de internautas.
Apesar
de trabalhar na editoria desde 1998 - Freire é
autor de dois livros sobre turismo e fez inúmeras
colaborações em revistas – o publicitário explica
que demorou pelo menos cinco anos para que o site
se tornasse seu ganha-pão. Isso porque o objetivo
não era financeiro.
“A
intenção inicial era somente ser dono de um espaço
onde eu pudesse mostrar na íntegra minhas viagens
para o público que me conhecia dos livros e das
revistas, sem estar subordinado à pauta do mês
de nenhum veículo, sem limitação de espaço, sem
deadline, sem interferência de editor ou de diretor
de arte”.
À
IMPRENSA, o editor do Viaje na Viagem e colunista
da rádio Band News FM falou sobre o mercado de
blogs de turismo, a ilusão de quem quer ser blogueiro
pelo glamour da profissão e a rotina de trabalho
no Viaje na Viagem.
IMPRENSA
– Antes do Viaje na Viagem você trabalhava com
publicidade. Quando decidiu mudar de área?
Ricardo
Freire - A profissionalização do blogueiro
surgiu por necessidade. O Viaje na Viagem já nasceu
no canal "Blogs legais" do Uol, e de
vez em quando ganhava chamadas na home do portal.
Isso nos fez ganhar audiência rapidamente e tomar
tamanha importância na minha pauta pessoal, que
chegou o momento em que era desonesto eu continuar
no meu emprego formal, se a minha cabeça estava
no hobby. Em agosto de 2005, pedi demissão da
agência - na ilusão de que em pouquíssimo tempo
choveriam patrocinadores para minhas aventuras.
Sabe de nada, inocente!
Aliás,
a ideia de ser blogueiro de turismo e ganhar rios
de dinheiro passa pela cabeça de muita gente,
né? A partir de que momento conseguiu faturar
com o negócio?
Passei
os quatro anos seguintes sem conseguir comercializar
o blog (a única receita que entrou foi durante
os 15 meses em que o Viaje na Viagem foi âncora
da área de blogs do portal ViajeAqui, da Abril,
e eu recebia um cachê fixo, sem participação comercial).
Tive que queimar patrimônio - e diminuir meu padrão
de vida (e de viagens). Por incrível que pareça
isso foi excelente para o meu trabalho. Deixei
de ser o publicitário mauricinho que ia atrás
apenas da última novidade e do luxo.
Houve
muitas mudanças no site desde sua criação?
Nesses
10 anos o blog mudou muito - a internet mudou
muito. No início era um blog de nicho, frequentado
por gente que só pensa em viagem e se encontrava
na caixa de comentário do post mais recente, não
importa o assunto, pra bater papo. Com o
crescimento do conteúdo, porém, o blog passou
a ser encontrado, via Google, por pessoas que
pensam em viagem somente duas vezes por ano, ao
planejar suas férias -- e que são a maioria dos
viajantes na vida real. As caixas de comentários
deixaram de ser salas de chat exclusivas dos habituês
e se tornaram um SAC trepidante de perguntas e
respostas sobre dúvidas práticas de viagem.
E
quanto ao conteúdo?
Os
posts precisaram ficar menos divertidos e mais
objetivos, para que as informações sejam encontradas
com facilidade (e resultem em menos perguntas).
Muita gente tem uma saudade meio idealizada de
quando o blog era pequeno - mas é uma saudade
do esconderijo, do mocó, da sala de chat privativa.
Hoje o site é incomparavelmente melhor. Quando
revejo posts anteriores a 2010, pouquíssima coisa
se salva.
Como
funciona a política editorial para anúncios e
publiposts?
Campanhas
publicitárias (na forma de banners) são veiculadas
normalmente, sem nenhuma vinculação editorial.
Já os publieditoriais têm texto elaborado por
nós e são claramente informados como tais; a partir
deste ano, já têm a hashtag #ad incorporada ao
título. Só aceitamos posts patrocinados de produtos
que aprovamos e que achamos úteis e vantajosos
para o leitor.
Aceitam
viagens patrocinadas
Aceitamos
convites de viagem quando o destino é de interesse
do leitor. Dificilmente essas viagens resultam
em guias definitivos - é difícil pôr o destino
em perspectiva quando a programação é rígida e
corrida - mas funcionam como o caldo de cultura
que nos permite começar a processar melhor a informação
que nos chega via caixa de comentários e que encontramos
na net sobre o destino. Algumas dessas viagens
são repassadas a leitores "históricos",
como um agradecimento pela participação ativa
no site. Esses leitores viram "enviados especiais"
e voltam com incrivelmente profissionais.
Conte
um pouco da experiência como colunista de turismo
na rádio Band News FM.
Os
boletins são muito gostosos de fazer; eu escrevo
os textos pensando na coloquialidade e depois
gravo tentando passar a impressão de que estou
improvisando. A gravação é feita no meu computador,
onde quer que eu esteja, e é então enviada por
FTP. A cada série eu indico à técnica uma canção
para servir de base, sempre tentando coordenar
a letra ou o estilo da música com o tema da semana.
Dessa maneira os programas ficam "coloridos";
a canção funciona um pouco como imagem.
O
mercado está repleto de sites e blogs sobre turismo.
Dá para sobreviver trabalhando apenas como “turista
profissional”?
Eu
dividiria os blogs de viagem brasileiros em três
tipos, segundo suas pautas. Um é o blog de autor,
em que o blogueiro cumpre exclusivamente a sua
pauta pessoal de viagem. Em 99% dos casos ele
tem uma ocupação principal e viaja apenas nas
brechas do trabalho. Quando feitos com talento,
são blogs extraordinários.
O
segundo tipo é o blog cuja pauta é viajar de graça
para onde convidarem. Não é um blog naturalmente
rentável, porque a viagem pode ser de graça, mas
não há remuneração para o blogueiro. Tampouco
é um blog que proporcione realização pessoal;
viajar de graça uma, duas, três vezes pode ser
divertido, mas quando todas as suas viagens são
a convite, viajar deixa de ser um prazer para
virar um compromisso.
O
terceiro tipo é o blog cuja pauta é a prestação
de serviço. O blogueiro identifica o seu público
e produz o conteúdo que responde as suas dúvidas,
organiza as suas preocupações e resolve as suas
viagens. Os blogs com esse foco são os que podem
se profissionalizar: a audiência cresce naturalmente,
e com isso aparecem as oportunidades para publicidade,
e-commerce e produtos editoriais.
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